segunda-feira, 16 de junho de 2008



Sou destaque, com a foto acima, nesta semana no blog Uma Imagem por Dia:
http://www.imagempordia.blogspot.com/
Na foto o Boca Club, na Augusta, em uma noite que não me lembro o nome, rs!
Ah, aproveito e espaço para divulgar meu blog pessoal. Estou muito feliz com a aceitação do pessoal e os acessos:
http://teandcookie.wordpress.com/

Má Palas

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O Som das Roupas

Texto de Mário Lemes

“Não dava pra ser diferente: Música e Moda precisavam acabar se unindo de alguma forma.”

Moda era Moda e Música era Música. Coisas distintas que andavam bem separadas sem nenhum tipo de “contato físico”. Tudo leva a crer que isso mudou naquele ano de 1954, quando um homem branco começou a ganhar fama por cantar um som típico de negros e dançar como nunca se vira antes. Sim, Elvis marcou o início oficial do que chamamos de Rock’n’Roll, e foi esse “estilo musical” (se é que podemos resumi-lo nesse termo tão pobre) que iniciou a grande influência do que se ouve no que se veste, ou vice-versa talvez.Com o surgimento do Rock, as pessoas passaram a sempre querer quebrar regras, produzir coisas inusitadas e, mais do que nunca, expressar de maneira evidente a personalidade. O Rock é o marco de toda essa influência música-moda que presenciamos. Talvez a razão disso seja o fato de que, a partir de seu surgimento (que já foi por si só uma revolução), várias revoluções começaram a acontecer, ano após ano, década após década. É por isso que hoje é tão difícil responder à pergunta “O que é Rock’n’Roll?”. Foram muitas subdivisões criadas nesse meio século (hippie, punk, grunge etc.) e cada uma querendo evidenciar sua individualidade perante a sociedade. E, nessa busca pelo individual, pela questão de se diferenciar dos demais e pela vontade de mostrar a todos o que pensa, surgiram, junto aos milhares de subgêneros musicais, os estilos de cada um.
É raro algum adepto a um desses movimentos aceitar a palavra Moda [1]. Mas querendo ou não, cada estilo desses criou uma tendência de consumo, uma marca, um marketing.No começo, o Rock era uma fusão de gêneros brancos e negros, Country&Western e Rhythm’n’Blues, e o estilo das pessoas que passaram a curtir o novo som não estava diretamente ligado às origens desses ritmos. A Moda ainda era bastante ditatorial e vemos, na época de Elvis, Bill Haley e Chuck Berry, as conhecidas roupas dos anos 50: apareceu a moda colegial, que teve origem no sportswear. As moças agora usavam, além das saias rodadas, calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos, suéter e jeans. O cinema também lançou moda, aquela do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme Juventude Transviada, que usava blusão de couro e jeans.
No início dos anos 60, as modelagens começaram a ficar mais retas, as roupas mais sóbrias e até os cabelos masculinos foram influenciados pelos Beatles. O Rock vivia um momento de extrema popularidade, e já perdera em partes a associação com a mera rebeldia jovem. E, assim também, a Moda começou a fazer referências às classes operárias e camponesas [2].
No final da década, a rebeldia jovem deixou de ser sem causa: em 1968 os movimentos estudantis contra as normas da sociedade tiveram seu auge. A Contracultura [3] já era Pop, o Rock vivia seu momento mais ácido e alucinógeno [4] e, envoltos por esse clima de psicodelia, os jovens começaram a se vestir com roupas largas, coloridas e despojadas ao extremo. Essa liberdade de pensar, vestir, se drogar etc., passou a ser conhecida como estilo Hippie, o qual até os rapazes de Liverpool acabaram aderindo.
Nos anos 70 a Moda nas ruas se dividia entre os freqüentadores natos de discotecas e os punks. Os primeiros, precursores da boca-de-sino, que estavam sempre ouvindo Dance e até Soul. Foi o auge do black-power [5]. Os segundos, adeptos do movimento anarquista mais “queridinho” de todos os tempos, o Punk. Influenciados pelos Ramones e pelo Sex Pistols [6] andavam de calças bem retas e justas e cabelos exóticos.
No começo dos tão queridos e odiados anos 80, surgiram bandas que não tinham uma definição própria de som, mas sempre se preocupavam em criar algo que se popularizasse com facilidade. Essas bandas tão diferentes entre si, mas que sempre visavam a comercialização do som, foram denominadas “New Wave”. A nova onda trouxe roupas coloridas e descoladas até demais. E até hoje, quando se fala da década de 80, lembramos de polainas, leggings, moletons coloridos, salto plataforma etc. Entendidos dizem que, na prática, os anos 80 só terminaram em 1994. Talvez tenha sido um pouco depois. Talvez, ainda estão para acabar.
A década de 90 trouxe o auge das Raves e do movimento Grunge. Os estilos já estavam dissolvidos, o xadrez ganhava espaço e muitas ideologias e cada camiseta, cada gola, cada sapato, cada cinto, tinha um significado. Se vestir era, mais do que nunca, uma questão de identidade.
E nessa primeira década do século 21, vemos a potencialização de tudo isso. Além de todos os estilos passados que ainda estão (e sempre estarão) “em alta”, surgiu o movimento Emo, que mais do que todos é bastante ridicularizado pelos não-adeptos. As franjas longuíssimas, as pulseiras de bolinha e o quadriculado marcam bem o tal estilo emotivo, embalado por bandinhas como Simple Plan e Panic! At the Disco. Também apareceu a New Rave [7], que começou como um estilo musical improvisado nos shows de Londres e ganhou força na Moda também. Bastante influenciado por peças oitentistas, cores vivas e muito brilho.
Não dava pra ser diferente: Música e Moda precisavam acabar se unindo de alguma forma. Hoje, é impossível fugir de referências musicais no visual. Um cabelo punk, uma blusa New Wave, aquela camisa xadrez que todo Grunge usa. Nossos cabides têm uma relação direta com nossos ouvidos. E, no meio de panos e decibéis, achamos o nosso estilo.

[1] A palavra “Moda”, em essência, se refere à uma tendência de consumo da sociedade. Ou seja, o que “é Moda” é algo querido e aceitável, adjetivos dos quais os Punks queriam distância.
[2] A classe operária e a classe camponesa, nessa época, consistiam em uma grande parcela da população americana. Entre outras coisas, o Jeans é um legado desse tempo.
[3] A contracultura foi um movimento alternativo surgido na década de 60, seguido por jovens que buscavam a quebra dos padrões tradicionais, bem como pregavam pela paz num período de Guerra. A Wikipedia dá uma força: http://pt.wikipedia.org/wiki/Contracultura.
[4] “momento mais ácido e alucinógeno” porque o Rock’n’Roll ganhou uma nova subdivisão, o Acid Rock, que pregava uma cultura de psicodelismo. O LSD ganhava adeptos nessa época, e Jimi Hendrix era praticamente o pai do ritmo. Além de Hendrix, até o Pink Floyd e alguns álbuns dos Beatles ilustram esse período “ácido” da música.
[5] Em inglês quer dizer “Poder Negro”. Os negros mais uma vez ganharam destaque na música, na moda, nas atitudes. O mundo todo admirava o estilo Black Power, que, entre outras coisas, é marcado pela inconfundível cabeleira crespa.
[6] Padrinhos do movimento Punk, o Sex Pistols gostavam de cantar sobre anarquia. Sempre estavam envolvidos em escândalos contra a monarquia da Inglaterra. “E era tudo marketing”, dizem alguns. Imortalizaram a célebre frase “God, save the Queen!”
[7] Os Klaxons foram os precursores do gênero. Veja fotos do estilo New Rave nos links:
http://madeinbrazilmag.com/fashion/labels/pullandbear-1.jpghttp://www.berlinfestival.de/2006/wp-content/press/Klaxons.jpghttp://i7.photobucket.com/albums/y296/imomus/jacketgenerics.jpg


Mário Lemes é articulista de Moda do site:http://www.revistamirabolante.com.br/

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Liberdade das palavras

Em uma post anterior, eu tinha escrito sobre a minha dificuldade, visto que achava que sentia, em relação a escrever algo dentro de um parâmetro de conteúdo e assunto anteriormente já pré-estipulado.
Senti isto na pele no mês passado. Tive que cobrir nnnn festas para um site. Além de comparecer e realizar tal de cobertura fotográfica das festas, no dia seguinte tinha que escrever um pequeno release sobre os eventos.
Nada mal, né, para uma aventureira de primeira viagem. Gostei, mas também odeie. Cansativo demais, festa para caramba! Palavras que não se encaixavam com as fotos e, meus próprios sentimentos em relação à energia das festas e dos eventos em si.
Sinto ainda quero continuar com minha coluna de discussões de assuntos diversos e em aberto, podendo sentir assim uma inebriante liberdade!
Jotas Quest e Wilson Sideral concordam que as palavras são como os boêmios, gostam de sair à noite. Não só sair à noite, mas viver toda uma noite. E que venham as noites, a liberdade e muitas palavras!!!

Má Palas

A profusão poética de vozes múltiplas.

CINEMA INSPIRAÇÃO


[ A tela inter e transdisciplinar de Júlio Bressane ]


Texto de Ivan Ferrer Maia

[ texto publicado no site publicado no site http://www.viraweb.com.br de 15/10/2003]



O cinema, enquanto linguagem artística, tem servido a muitos designers como fonte de inspiração criativa, sejam pelas imagens, diálogos, sons, roteiro ou montagem. Por esse motivo, falemos de um cineasta brasileiro, ou melhor, de três filmes deste cineasta: Mandarim, Miramar e São Jerônimo, que servem - e muito - para o delírio criativo. Para quem ainda não assistiu, aconselho ir à locadora. Assistir apenas uma vez a qualquer filme de Bressane, com certeza, não vai ajudar muito na inspiração artística. Os filmes de Bressane são cultos - cinema hermético. Ele mistura literatura, história da arte, música e outras áreas do saber. Por isso, assista-os mais de uma vez. Algumas cenas de Bressane são sublimes, com forte concepção espiritual, típico do cineasta russo Sokúrov e as seqüências de nuvens de Godar. Peixoto questiona: como representar o irrepresentável? Bressane respeita o tempo da imagem, congela cenas e enquadra closes da paisagem natural e urbana, intercala sons e imagens e reconstitui o novo estado da arte. Em alguns momentos o plano ganha perspectiva no molde Neoclássico. Em outros, a câmara se articula em panorâmicas, travellings e conturbados plongées e contra-plongées diagonais e verticais.



No filme Mandarim, contemplamos de forma peculiar um período da história da música brasileira, na cidade do Rio de Janeiro. Entre o niilismo e a paixão pela música, o filme mostra Mário Reis como o pivô da música moderna, no Copacabana Palace, onde é o ícone da aristocracia musical. Estão presentes Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa e Edu Lobo. Mandarim possui imagens com referencial compositivo clássico. A poética visual é mais linear, clara, com pontos de fuga. Há imagens metonímicas de closes da arquitetura Neoclássica do Rio de Janeiro. Em Miramar vemos a jornada intelectual, sentimental e artística de um jovem, a fim de se tornar cineasta. Seria uma autobiografia? A literatura é explicitada fortemente. Ora declamada, ora em forma de poesia visual - o Conto Nono dos Lusíadas de Camões, a Boca do Inferno de Gregório de Matos, os Hai Ku e Hai Kai orientais. Podemos até fazer uma analogia com Verbo Intransitivo de Oswald de Andrade, quando o jovem Miramar escapa dos desejos inusitados de sua professora, sob o fundo musical “mamãe eu tomei bomba”. É um filme cômico e provocativo. O cineasta experimenta a combinação de linguagens distintas. Trechos de filmes, textos clássicos, sons e imagens dissociantes, como a seqüência de dez minutos, falada em inglês, sem legenda. Hélio Oiticica dialogando com Haroldo de Campos comentou que: “em Matou a família e foi ao cinema, quando as pessoas estão falando e não sai voz, o silêncio tem a mesma importância que a coisa falada. Isso tem uma relação com aquela coisa de o John Cage usar o silêncio como algo elementar, que nada tem de cinema mudo”.



Diante das cenas / poesias visuais de Miramar, somos atraídos a transcrever um verso da Balada da Moça do Miramar do poeta Vinícius, onde explora seu metro favorito: a redondilha maior (verso de sete sílabas métricas):



“De noite é a lua quem ama



A moça do Miramar



Enquanto o mar tece a trama



Desse conúbio lunar



Depois é o sol violento



O sol batido de vento



Que vem com furor violeta



A moça violentar”.



A redondilha maior de Vinícius se cruza entre o vai e vem das imagens de Bressane. Imagens em reverso de ondas espumantes do mar e sons de ventos contemplam uma poética visual que nos confunde ludicamente, retomando os olhos de ressaca, oblíquos e dissimulados de Machado de Assis. Pode o passado retomar a forma do novo? No cinema de Bressane, a história transcende o tempo, ganha linguagem contemporânea e recupera a memória. Bressane destrói e reconstrói a memória em São Jerônimo, um filme conturbado, teatral, visceral, antítese da polpa, estética do osso, que em alguns momentos recordamos Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos. Diz Bressane do filme São Jerônimo: “aí já estamos no filme. Um filme que misture intolerância de Griffith, o deserto de John Ford, Greed de Stroheim e o Evangelho Segundo Mateus, de Pasolini”. A fotografia de José Tadeu é virtuosa. O cenário é de pedra, em tons de amarelo, paisagem rústica, quente. Em outros momentos, terra gândara e áspera. Um ambiente genuinamente nordestino, remetido ao tempo romano. Jerônimo caminha pelo deserto atormentado pela dúvida: seguir o pensamento pagão de Cícero ou do Cristianismo. Escolheu o segundo, levando-o ao punctum, ao quiasma entre a defesa da castidade e os seus desejos. Bressane embaça, confunde, distorce e difusa os ideais maniqueístas. Intercala cenas, lembrando o interseccionismo utilizado por Fernando Pessoa. Vemos tal intersecção em vários filmes de Bressane, como em Matou a família e foi ao cinema, no qual as mulheres se amam enquanto seus maridos militares praticam a tortura. O filme é uma janela da época, o momento em que o cineasta e o Brasil viviam. O filme São Jerônimo, além de ser uma aula de estética, é um tratado de semântica. Bressane retoma a importância de Jerônimo para o Cristianismo no ocidente, quando traduziu a Bíblia do Hebraico e do Grego para o Latim, defendendo que toda tradução é uma nova criação. Jerônimo elaborou mais de 380 neologismos e modernizou a língua latina. Nas palavras de Bentes: "o cineasta constrói uma analogia entre o trabalho pioneiro, experimental e monumental de São Jerônimo como tradutor da Bíblia Latina, a vulgata e a experiência do monge no deserto, seu inferno e paraíso, não-lugar, página em branco que produz cegueira e visão4".Em Bressane, o diálogo cede espaço ao discurso e o torna polido, lustroso e polirrítmico. Everaldo Pontes e Hamilton Vaz Pereira dividem o discurso com o silêncio sublime e o som ecoante dos ventos.O épico é transversal em São Jerônimo, da encasquilhada Roma Antiga para Caravaggio, que é citado constantemente durante o filme. Bressane capta o espírito das pinturas do artista barroco e as transforma em imagem cinematográfica. Caravaggio transforma suas pinturas em um constante conflito entre mundano e o sublime. Ele contrapõe o valor moral da prática com o valor intelectual da teoria. As pinturas de Caravaggio são encrespadas de viscosidades, rugosas e um tratamento de luz que seria denominado por tenebrismo. Suas pinturas de São Jerônimo mostram um monge compenetrado na sua tradução, emergido na razão, sem fazer suscitação ao sagrado.









CARAVAGGIO, Michelangelo Merisi da.San Jerónimo escribiendo, 1906, 112 x 157 cm.Roma, Galleria Borghese.

O filme recorre a outros períodos da História da Arte. O enquadramento da grande pedra remete a um vazio metafísico de De Chirico e o simbolismo de Dali. São Jerônimo é repleto de cenas surrealistas, que também abrem oportunidades para interpretações psicanalíticas. As grutas e as pedras ganham forma feminina. Ao mesmo tempo em que Jerônimo defende a castidade, ele se rasteja como um réptil entre as pedras e se paralisa na abertura das grutas. Havia tortuosas pedras no caminho de Jerônimo. O cinema de Bressane é inspirador! Inspira a ponto de fazermos expirar novas criações. Quem tem dificuldade em traduzir uma linguagem artística para uma outra assista Bressane, pois verá música se transformar em imagem, fotografia tornar som, pintura se movimentar, teatro virar pintura. Delírio cult! Inspira ação ao designer!


IVAN FERRER MAIA Doutorando em Multimeios / UNICAMP, Designer, Diretor Pedagógico da COOPERCAMP, Reitor e Professor da UEMG, docente das disciplinas de Metodologia Científica, Arte e Sociedade, História da Arte e Turismo Cultural. Especialista em Criatividade, Cultura Visual e Tecnologia Digital.